sábado, 7 de fevereiro de 2009

Uma História Pessoal do Anarquismo

Num dia pretérito conheci um anarquista aqui em Porto Alegre. Ele era estudante da UFRGS como eu. Engressara naquela unversidade em 1981, quando muitos estudantes se engajavam na legalização do recém-criado Partido dos Trabalhadores(PT, em 1980). Eles coletavam assinaturas na porta do restaurante universitário. No segundo semestre aconteceu a chamada greve do RU, com os estudantes ocupando aquele restaurante por quase uma semana. Também participavam militantes dos partidos comunistas e do PMDB. Naqueles dias, nos debates abertos entre os estudantes de diferentes facções, ele já tinha optado pelo anarquismo no primeiro ano de vivência na universidade. Ali ele conhecera outros anarquistas, principalmente das ciências humanas e das artes cênicas. Ele trabalhava num laboratório da Engenharia e um dia se interessou pela revolução espanhola. Assim, foi até a sociedade espanhola de socorros mútuos e numa tarde ensolarada do verão de 1982, subindo a escadaria daquela sociedade, perguntou a um velhinho bem trajado que vinha em sentido contrário sobre alguma testemunha daquela guerra civil. Imediatamente mudando seu sentido, subiu de volta a escada e o conduziu até um grande salão anexo. Ali, aberta e suscintamente, perguntou-lhe: "(...)conõces las ideas de Bakunin? Veio a saber mais tarde que ele tinha sido um revolucionário anarquista espanhol refugiado no Brasil após o regime ditatorial de Francisco Franco, implantado na Espanha a partir de 1939, quando da derrocada das forças de esquerda na Espanha. Ele morava sozinho na rua Miguel Tostes, não chegou a conhecer a sua esposa, que falecera pouco tempo atrás antes de travarem conhecimento. Esse ano de 1982 foi fecundo para a atividade militante daquele colega da UFRGS. Abandonando o laboratório onde trabalhava, ele associou-se a um casal de anarquistas que vendia pequenas brochuras de orientação revolucionária anarquista em bares e restaurantes noturnos. Naqueles dias ocorria a guerra imperialista das Ilhas Malvinas, a luta do sindicato Solidariedade na Polônia e as eleições para governador, primeira após 23 anos de ditadura no Brasil. Nas vésperas dessa eleição, esse meu amigo contou-me que organizou a projeção da película "Libertários", locada de São Paulo no anfiteatro da faculdade de arquitetura. Compunham ele e seus asseclas um pequeno embora muito ativo coletivo anarquista que agia como minoria ativa junto aos estudantes daquela universidade. Contudo, sua vivência existencial estava muito conflituada e empobrecida, esse bom amigo estava adoecendo emocionalmente. Ele passou então por várias internações psiquiátricas, teve que abandonar a universidade, casou mais tarde mas no geral nunca foi mais o mesmo. Contudo, mesmo a morte do amigo anarquista espanhol não o fez abrir mão da ideologia e pensamento anarquistas e até hoje frequenta um coletivo libertário na sua cidade de origem. Restou assim a lembrança de um cartaz dos tempos da guerra das Malvinas que mostrava frontalmente uma dona de casa fazendo compras no supermercado com uma criança e no fundo a imagem de Adolph Hitler discursando. Em baixo a sentença: "não nos deixemos tragar pelos politiqueiros e sua demagogia lodosa. Não vote nunca mais."(Spartacus).
Contudo, o Anarquismo

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