quinta-feira, 28 de maio de 2009

Breve Exposição da Questão Irlandesa

A Irlanda(Eire ou Erin, para os poetas) é um país sui generis. Chamada Ibernia, foi ocupada pelos romanos em tempos muito pretéritos, quando Patrício pregou e realizou o milagre da picada de cobra. Em algumas décadas, ele evangelizou a Boa Nova de Cristo por todo o território irlandês. Antes da ocupação de Roma, a Irlanda era povoada por clãs celtas que eram pagãos e o mais antigo patriarca seu chamou-se Earl of Worcester. O Eire conservou toda uma história de ocupação pela Inglaterra, o seu idioma nacional, o gaélico, é acompanhado pela língua inglesa até hoje. Muitos gênios da cultura e da ciência foram e têm sido irlandeses(tais como o próprio Patrício, o físico Robert Boyle, o escritor James Joyce, o dramaturgo Samuel Beckett, os políticos e oradores O´Connor e Parnell e muitos outros). Do domínio inglês sobre a Irlanda - que é histórico - restou a região do Ulster(ou Irlanda do Norte), de capital Belfast(a capital da Irlanda do Sul é Dublin). "O norte sinistro e a verdadeira Bíblia puritana: côcos raspados, dobrai-vos ao chão!", segundo a conhecida passagem de Joyce em "Ullysses". Uma sociedade irlandesa de resistência contra os ingleses foi fundada em 1831 e se denominou os "Fenianos". O norte irlandês é protestante e o sul, católico. Cerca de meio milênio de ódios raciais e religiosos tem conservado a Irlanda dentro de um contexto político-ideológico dilematicamente dramático ao longo de toda a sua história. A Irlanda tem um destino de fome também como no século XIX, quando aconteceu toda um grande movimento de imigração principalmente para a América. Também a intolerância religiosa tem suscitado um combate armado entre o exército inglês que ocupou o Ulster e o denominado IRA(exército republicano irlandês), este último atualmente extinto. Contudo, muita gente pereceu nesses quinhentos anos de embates militares. Com o fim do conflito entre o IRA e as forças de ocupação inglesas, o Eire tornou-se finalmente uma região pacificada(Spartacus).

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Conflito Histórico Israel versus Islam

Com o advento da idade média, a chamada "terra santa"(Jerusalém) caiu nas mãos dos árabes e os cristãos ocidentais realizaram muitas expedições militares(as Cruzadas) para libertá-la. Também, ocorrera a chamada "diáspora" ou dispersão dos judeus por todo o mundo. Muitos acreditavam na tese de que Deus havia castigado os jedeus pela morte de Cristo. Já no século XX devido ao holocausto nazista, no qual pereceram seis milhões de judeus, criaram-se as condições políticas e emocionais para a edificação do Estado de Israel. Buscava-se "uma terra sem povo para um povo sem terra". Assim, na região onde historicamente viveram os judeus, a Palestina, estes foram instalados. Contudo, essa terra tinha dono, a saber, os habitantes palestinos de religião islamita. Estes foram categoricamente destituídos de sua terra legítima. Numa configuração geopolítica envolvendo Israel, Cisjordânia, Jordânia, Egito, Líbano e Síria, o denominado Oriente Médio se tornou um ameaçador barril de pólvora. Por trás de Israel se posicionavam os EUA e relativamente à Palestina, todos o restantes países árabes. Começaram então as disputas militares naquelas regiões nacionais. A intolerância aberta e total dos judeus com relação à posse dos territórios em questão adveio da crença de que o próprio Iahweh outorgou-lhes aqueles pedaços de terra e que de fato legitimamente lhes pertenciam. No fim dos anos 60, a chamada "guerra dos seis dias", no início dos anos 70, a "guerra de Yom Kippur", no início dos anos 80, a invasão do Líbano sob a égide do terrorista de Estado M. Bégin. Nesses anos todos a autoridade palestina era Iasser Arafat e o comando supremo palestino nunca admitiu a existência do Estado de Israel e vice-versa. A manutenção das fronteiras através da implantação de colonos israelenses armados levou à instauração de processos político-jurídicos de tipo justiceiro, principalmente na Cisjordânia, Gaza e Líbano. Um vergonhoso muro tem sido erguido para separar árabes e judeus, Jerusalém é dividida e enfrenta abertos confrontos e atos terroristas em mesquitas e sinagogas. Em 1990, sob a égide de Sadam Hussein, o Iraque entrou em guerra com os EUA e todo o mundo islâmico ingressaria no confronto se Israel assim o fizesse. Foram lançados mísseis por sobre o território da Jordânia e Israel não pode se defender. Nos dias de hoje(2009), os EUA enfrentam o Iraque em uma segunda guerra, esta sob o falso pretesto de que este país islâmico escondesse armas de liquidação em massa. A administração G. W. Bush não apresentou nenhum avanço na questão do Oriente Médio. O presidente dos EUA Bill Clinton realizou uma frágil aproximação entre Isaac Rabin e Iasser Arafat num encontro na Casa Branca. Atualmente, o presidente B. Obama e inclusive o Papa Bento XVI têm demostrado muito interesse e boa vontade para tentar uma resolução pacífica para o conflito de Israel com o Islam, isso se reveste de uma conotação crítica porque o Irã já parece ostentar um potencial bélico nuclear possível. Recentemente, Israel lançou uma pesada ofensiva sobre a Faixa de Gaza a qual foi diretamente condenada por todo o mundo e que sugeriu o holocausto judeu ao contrário devido ao bombardeio genocida realizado sobre indefesas populações civis(Spartacus).

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores

Sob a égide de Marx, Bakunin e Engels, no Congresso de Genebra de 1866, foi fundada a primeira associação internacional dos trabalhadores. Logo o debate político-ideológico polarizou os ânimos daquela agremiação. Marx, defendendo a revolução através da mediação de uma vanguarda revolucionária(mais tarde, intelectual para Gramsci), estabelecendo-se uma ditadura denominada "do proletariado"(ou regime socialista de transição), com a mediação de uma condição política intermediária(ou socialista) relativamente ao derradeiro comunismo utópico, se opunha a Bakunin que afirmava que "o caminho para a liberdade é a própria liberdade", enfatizando inclusive um regime de expropriação das heranças. O confronto entre Marx e Bakunin dilacerou a primeira internacional e esta foi sucedida por mais três internacionais, a saber, a segunda(social-democrata), a terceira ou o Comintern(de orientação soviética) e a última, a quarta de natureza trotskista. Finalmente, a primeira AIT foi herdada pelos anarquistas em sua universalidade e tem sede na Espanha, tendo participado com a CNT -FAI da revolução espanhola de 1936-1939. A primeira AIT congrega uma multiplicidade de comitês, sindicatos, anarco-sindicatos e ONGs de essência ácrata por todo o globo terrestre. De fato, após o infrutífero antagonismo de Marx e Bakunin que pareceu ter aniquilado a primeira AIT, contudo, tal foi herdada e reeditada pelos anarquistas tornando-se assim a sua própria associação internacional dos trabalhadores(Spartacus).

domingo, 17 de maio de 2009

A Histórica Questão Republicana nos EUA

Deixando de ser colônia inglesa no dia 4 de julho de 1776, os Estados Unidos da América declaravam sua independência. A Constituição daquele novo país foi formulada por Thomas Jefferson, a partir das 13 colônias confederadas ao leste. Contudo, essa Carta primordial foi a tempo reconhecida como sendo deveras liberal e avançada para a república que as elites desejavam conservar. Assim, a formulação de uma nova Constituição, a substituir aquela da Confederação, foi então proposta. Dessa maneira, de 1787 a 1788, um franco debate político tomou lugar nos jornais de Nova Iorque e os declarantes que propunham modificar a Constituição foram Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, os quais escreviam sob o pseudônimo coletivo de "Publius". A tese política e ideológica consistiu em formular uma Consituição que aparentasse uma nação politicamente liberal e progressista mas que essencialmente apresentasse uma face oculta extremamente conservadora, ou seja, representando no nível estamental uma república moderna fortemente reacionária. O grande cientista político Alexis de Tocqueville dizia que em repúblicas como a configurada pelos EUA suscitavam a sempiterna aproximação do povo ao poder, contudo isso não se efetivando jamais. De fato, só muito tempo depois, sob a égide dessa Constituição, que os negros e as mulheres, por exemplo, obtiveram direitos políticos soberanos. Sob essa nova Carta, os EUA conservaram um paupérrimo regime de representação ideológico- partidária(apenas definindo o confronto político apenas entre "democratas" e "republicanos"), vivenciaram uma guerra civil entre norte e sul, finalmente se unificaram e passaram a empreender a conquista do oeste(com o genocídio das populações indígenas) e o avanço imperialista como opção diplomática na política exterior já nos tempos da primeira guerra mundial(quando os EUA já possuiam algumas colônias). Esse modelo opcional que pode ser caracterizado pela política do "big stick" de Theodor Roosevelt é conservado pelos EUA até hoje em dia, mais forte nas administrações republicanas ou mais brando naquelas dos democratas. Nos dias correntes desse ano de 2009, verifica-se que o modelo econômico neo-liberal parece apresentar sua feição mais problemática e terrível, e a crise global que afeta o sistema capitalista como um todo nasceu da crise imobiliária e consequente quebra-quebra de bancos e empresas norte-americanas. Assim, diante de uma crise de proporções comparáveis àquela de 1929, são os trabalhadores em todo o mundo que são os mais atingidos com o desemprego e a carestia concomitantes à crise. A proposta revolucionária seria a superação histórica e dialética do sistema capitalista para um regime sócio-econômico com ênfase no valor do trabalho e não exclusivamente centrado no capital(Spartacus).

terça-feira, 12 de maio de 2009

O PT e suas Contradições Intrínsecas

Nascido do movimento sindical brasileiro do fim dos anos 70, o PT surgiu como uma alternativa nova para a política nacional, relativamente tanto aos partidos tradicionais de esquerda(os comunistas) quanto os de centro-esquerda(o MDB de Simon e Ulysses e o trabalhismo tradicional de origem varguista de Brizola, por exemplo). O PT se originou nas greves do ABC paulista, em 1979-1980, sob a égide de Luís Ignácio da Silva, o líder sindical Lula, e logo se espalhou no seio dos trabalhadores mais conscientes e também no meio dos estudantes universitários e secundaristas). Depois de um processo dramático de angariação de assinaturas, o PT finalmente foi legalizado e pode participar do pleito para governador em 1982, o qual redundou em um grande fracasso para o PT. Não obstante, de 1982 a 1989, o PT elegeu um número crescente de representantes no legislativo e mesmo do executivo, num acúmulo tal que se viu preparado politicamente para disputar as eleições para presidência da república em 1989, chegando ao segundo turno e opondo-se ao candidato de extrema-direita Fernando Collor de Melo. Devido a uma difamação montada em última hora, Collor venceu aquela eleição e num par de anos depois, sofreu um impeachment sendo substituído por seu vice Itamar Franco. Depois da estruturação do plano Real pelo ministro Fernando Henrique Cardoso e de um par de mandatos à presidência da república pelo mesmo FHC, finalmente o PT encontrou sua grande e histórica chance com a eleição de Luís Ignácio "Lula" da Silva ao planalto central. O PT cresceu(diríamos, "inchou" se formos realistas) e tem ocupado grande número de cadeiras legislativas e do executivo também. Atualmente, o PT com Lula vivencia um segundo mandato e parece apresentar grande popularidade, embora esteja contextualizado em um enorme quadro de corrupção(de seis anos para cá poderíamos enumerar mais de trinta situações de escândalos políticos, fraudes e corrupção, desde José Dirceu, Valdomiro Diniz e a Loterj, até o caso Daniel Dantas, passando pela crise do mensalão). Ao ingressar em Brasília, o PT abandonou qualquer intenção revolucionária e professa uma simples e prática social-democracia, nos moldes do PCI eurocomunista e do "compromisso histórico" de Togliatti. Talvez o único mérito do governo Lula tem sido a preservação e continuidade do plano Real implantado por FHC em seus dois mandatos pretéritos. Não obstante esse horizonte nebuloso e cinzento de corrupção generalizada, o PT ainda intenta um terceiro mandato contínuo e o presidente Lula parece já ter uma candidata escolhida e de preferência desse mesmo presidente, a ministra Dilma Rouseff(a qual, para o infortúnio de Lula e seus epígonos, encontra-se dilematicamente enferma). Sob a égide de Guido Mantega e Henrique Meireles, a economia brasileira luta como pode para superar a crise mundial que abrange o mundo inteiro atualmente. Tanto o avanço econômico com o investimento na prospecção de petróleo como as iniciativas de cunho social do governo Lula, sua administração esboça boas intenções(até certa boa vontade) embora apresente contradições essenciais e intrínsecas que indicam uma limitação constitutiva de sua governabilidade. O PT(infelizmente para muitos revolucionários históricos) não consegue em seus mandatos transpôr os limites estamentais, políticos e ideológicos da social-democracia e isso tem suscitado a crítica aberta à esquerda de partidos mais radicais(como o PSTU e também os anarquistas, por exemplo). Resta-nos esperar que o Brasil ultrapasse a fronteiras políticas do governo Lula para verificar o que o futuro executivo e legislativo da república reserva para nós(Spartacus).


domingo, 10 de maio de 2009

Uma Visão Crítica da Psiquiatria Histórica

Os procedimentos em tratar, lidar ou tentar curar a loucura são muito antigos. Houve um tempo pretérito(o medieval) em que os dementes eram internados num navio que seguia descontrolado e à deriva, chamava-se a Stultifera Navis. Desde a antiguidade que a loucura era considerada um estilo particular, idiossincrático, um modo diferente de ser. Por exemplo, na Palestina de Cristo, os loucos, as crianças e os nabis(fundamentalistas religiosos delirantes) eram tolerados e vivenciavam o contexto social livremente, eram respeitados(uma dos sinônimos de "nabi" era "rabi"). A aleatoriedade e indeterminação sociais e existenciais dos tempos medievos eram estigmatizados pela crítica a partir da modernidade renascentista("cegos que guiavam outros cegos ao abismo") ou o protesto aberto àqueles costumes(em obras literárias como "O Elogio da Loucura" de Erasmo de Roterdã, "Dom Quixote de La Mancha " de Cervantes, "O Leviatã" de Hobbes, "A Utopia" de Morus e "A Cidade do Sol" de Campanella). A racionalidade científica cartesiana ali começava a imperar, a ciência emergente iniciava suas exigências no seio de uma sociedade em franca transformação. Contudo, é no advento da revolução francesa de 1789 e do pensamento iluminista dos enciclopedistas que as sociedades científicas, principalmente na França, começaram a tratar o louco com métodos espetaculares(o racionalismo das ciências era então transferido às humanidades e aos contextos teóricos político e social). É o caso do Woysec e de outros espécimes específicos catalogados, também o exemplo do Homem Elefante, este último apresentado num filme cinematográfico recente que caracterizou aquelas exposições monumentais de eugenia e figniosomia(duas ciências já obsoletas) realizadas pela Royal Society em Londres. Contudo, é nos séculos XVIII e XIX que a loucura passou de "erro de cálculo" para ser considerada "distúrbio de comportamento". Assim, de modo concomitante, começaram a ser construídos grandes complexos penitenciários e grandes complexos psiquiátricos. O internamento, aplicação de procedimentos normativos, organizacionais, regulativos e repressores, simultaneamente à processos clínicos rudimentares (e muito questionáveis), tratavam o louco segundo uma referência direta com o criminoso. Choques anafiláticos, choques elétricos, indução de febre e convulsões eram aplicados experimentalmente aos pacientes, concomitantemente ao surgimento da psicologia moderna e da psicanálise, principalmente na Europa do século XIX(Charcot, Freud, Bleuer, Kraepelin, Klein e Pinel por exemplo(este último tendo o mérito de libertar os dementes dos grilhões). Mais tarde, já no século XX, tivemos Jung, Adler e Rogers e, finalmente, a filosofia psicanalítica de Jacques Lacan). Às vezes se supõe que a psiquiatria parou no tempo. A rotina diária de um hospital psiquiátrico no início do terceiro milênio é particularmente simples, organização coletiva social-psicológica, contenção medicamentosa ou mesmo mecânica, uso terapêutico e mesmo repressivo da palavra, normalização comportamental, vigilância permanente, controle corpóreo, do gesto e, se possível, do próprio pensamento. A despeito do uso terapêutico do choque elétrico, em alguns hospitais ainda se aplica o choque elétrico punitivo e usualmente a contenção física através da camisa de força ou amarras. Existem regras silenciosas nos hospícios e quem ousar ou tentar se confrontar com o sistema acabará invariavelmente esmagado e exterminado pelo sistema(com a punição suprema e derradeira da lobotomia, por exemplo, que torna completamente passivos e inofensíveis os pacientes que seriam irremediavelmente agressivos na ausência de uma intervenção cerebral definitiva específica). De fato, nos parece que, enquanto outras áreas da medicina avançam a passos largos, a psiquiatria amiúde parece permanecer estagnada no tempo, com suas práticas e procedimentos historicamente invariantes e universalmente repressivos. Considerados tema tabu até os anos 50, a loucura, a clínica e o hospital psiquiátricos começaram a ser nas últimas luzes do estruturalismo abordados por filósofos como Jules Deleuze e Michel Foucault, esse morto em 1984 pelo HIV, sendo um dos primeiros intelectuais a sucumbir devido à AIDS através de um longo e doloroso processo infeccioso(Spartacus).